Por 20 anos, o pacto era claro no marketing digital: você criava conteúdo, e os buscadores, liderados pelo Google, te enviavam tráfego. Essa troca implícita sustentou uma indústria, deu poder a criadores e marcas, e permitiu o florescimento do SEO e do marketing de conteúdo. No entanto, a ascensão da Inteligência Artificial (IA) está desmoronando essa lógica, transformando radicalmente o cenário e impondo uma nova realidade para marketers e criadores de conteúdo. O jogo mudou, e quem não se adaptar, corre o risco de sumir.
A Quebra Radical: De Tráfego para Desaparecimento
A IA não está apenas otimizando processos; ela está redefinindo a maneira como as informações são consumidas. O Google, que antes enviava tráfego ao raspar suas páginas, agora raspa 18 páginas para, em média, gerar apenas 1 clique. Essa relação, que era de 6:1 há apenas seis meses, mostra um salto de 3x em meio ano. O conteúdo, que antes levava o usuário a páginas mais profundas, agora é digerido pelos “IA Overviews” – sumários gerados por IA que respondem às perguntas dos usuários sem que eles precisem sair do buscador.
A situação é ainda mais drástica com as IAs generativas como o ChatGPT. Dados recentes mostram que, para cada 1.500 páginas raspadas, apenas 1 visita é gerada. Se antes a “segunda página do Google era o melhor lugar para esconder um cadáver”, hoje o conteúdo mal chega à primeira. Essa “conveniência” para o usuário final tem um custo altíssimo para os criadores: as plataformas retêm o público, monetizam o conteúdo alheio com anúncios e pagam zero em tráfego.
O Roubo Disfarçado de Inovação e o Número Chocante da Cloudflare
O que está acontecendo não é apenas uma evolução, mas uma “quebra radical” e, para muitos, um “roubo disfarçado de inovação”. 75% das buscas já são resolvidas diretamente nas plataformas, e a projeção é que esse número chegue a 90% com a popularização dos “IA Overviews”. O CEO da Cloudflare apresentou dados que confirmam essa tendência alarmante: para uma empresa de IA enterprise, 60.000 páginas raspadas geraram apenas 1 visita. Isso prova que as pessoas adoram a comodidade e não se importam em clicar; elas querem respostas rápidas e diretas.
Para os criadores e marcas, isso se traduz em menos escala, menos controle e, crucialmente, menos margem de lucro. O incentivo para produzir conteúdo original está desaparecendo, abrindo um risco sistêmico de uma internet sem diversidade de fontes. A IA, ao destruir o incentivo para criar conteúdo original, nos leva a um futuro de “sem tráfego = sem anúncios, sem assinaturas, sem ego”.
As Implicações para Marketers e a Mudança no Modelo de Atribuição
Diante desse cenário, as implicações para os marketers são profundas e imediatas:
- SEO Tradicional Morrerá como Estratégia Principal: A otimização para motores de busca como conhecíamos está perdendo sua eficácia.
- Tráfego Orgânico se Tornará Inviável em Escala: A expectativa de crescimento de tráfego orgânico será cada vez mais difícil de alcançar.
- Preço da Mídia Paga Explodirá: Com menos inventário disponível e mais anunciantes disputando atenção, o custo da mídia paga aumentará exponencialmente. Os “walled gardens” (Google, Meta, OpenAI) reterão tudo.
O modelo de atribuição também está sendo transformado. Chega de cliques rastreáveis; o foco passa a ser “impressões em IA” e “Share of Voice” em respostas automatizadas. Isso resulta em métricas de performance muito mais opacas, dificultando a mensuração do ROI e a otimização de campanhas.
A Nova Tática: Audiências Micro e Marketing Proativo
Apesar do desafio, a adaptação é a única saída. O marketing digital está passando pela maior disrupção desde o surgimento do Google, e 2025 é o ano em que o SEO está sendo reescrito sem um playbook fácil. Quem entender primeiro, vai liderar.
A nova tática é o “Micro Audience Targeting”, um marketing proativo que se baseia em:
- Segmentação Precisa e Proatividade: Em vez de esperar o clique, é preciso ir atrás do cliente.
- Personalização em Escala via IA: Utilizar a IA para personalizar a comunicação e o engajamento de forma massiva.
O Que Fazer? Evoluir para o Marketing Proativo
É hora de repensar tudo: conteúdo, mídia, atribuição, mensuração. Para navegar essa nova era, as marcas e os profissionais de marketing precisam:
- Obsessão por Dados em Tempo Real: Acompanhar e agir com base em insights instantâneos.
- Estratégia de Owned Media Robusta: Construir e fortalecer canais próprios para não depender exclusivamente das plataformas.
- Testar Novos Canais Antes que Fechem: Estar à frente, explorando novas mídias e formatos antes que se saturem ou se tornem inviáveis.
- Investir em Marca (Memória e Preferência): Construir uma marca forte e memorável que gere preferência, independentemente do canal de aquisição.
Em resumo, a era do marketing reativo, que esperava o clique, está chegando ao fim. A sobrevivência e o sucesso dependerão da capacidade de evoluir para um marketing proativo, centrado em audiências micro, dados em tempo real, mídia própria e uma marca forte. O tempo de reagir é agora.